Qual a crítica social de Vidas Secas de Graciliano Ramos?

O livro “Vidas Secas”, do autor alagoano Graciliano Ramos, nos apresenta um retrato da ação da miséria na vida das famílias de retirantes. A obra gira em torno de um grupo familiar composto pela cachorra Baleia, a mãe Sinha Vitoria, o pai Fabiano e os filhos chamados de “mais novo” e “mais velho”. Continue lendo para saber mais.

O romance Vidas Secas

O romance “Vidas Secas” foi publicado em 1938 e tem como foco a vida de uma família de retirantes sertanejos. Quando a seca castiga o local em que essa família reside, eles se mudam em busca de melhores condições. O livro faz parte da segunda fase modernista conhecida como regionalista. 

Graciliano Ramos empregou um estilo seco de escrita, com poucos adjetivos ele consegue transmitir a aridez do ambiente. O leitor pode sentir os efeitos da seca sobre aqueles que estão sendo acometidos por ela. 

A estética da seca de Vidas Secas

O livro “Vidas Secas” é considerado como um dos maiores sucessos da segunda fase modernista. O ponto diferencial dessa obra para as demais com certeza é o apuro técnico de Graciliano Ramos. 

O autor usa diversos recursos para explorar a temática regionalista, como o emprego de discurso livre indireto, narrativa não-linear, nomes dos personagens, entre outros. Todos esses recursos confirmam a denúncia das questões sociais abordadas.

Essa obra apresenta a seca como um fator de desumanização dos personagens, isso já começa pelo título. A expressão verbal é tão estéril quanto o solo extremamente castigado da região. 

A miséria causada pela seca (elemento natural) é somada à miséria decorrente da influência social, apresentada através da exploração dos mais pobres pelos ricos proprietários locais. 

Retirantes

Como o próprio nome indica, os retirantes são indivíduos obrigados a se retirar, ou seja, eles não têm a possibilidade de permanecer. A vida dos sertanejos nômades possui fragmentação temporal e espacial.

Essa fragmentação foi captada por Graciliano Ramos na estrutura de Vidas Secas. O autor usou um método de composição que se caracterizou por romper com a linearidade temporal, bastante comum em romances do século XIX. 

Há no romance falta proposital de linearidade. Os 13 capítulos da obra não estão ligados temporalmente por relações de causa e consequência. Inclusive, é possível ler os capítulos de forma independente. 

O narrador de Vidas Secas

Graciliano Ramos utilizou em “Vidas Secas” a narração em terceira pessoa, único livro em que ele optou por esse recurso. Essa é uma necessidade da narrativa para preservar a verossimilhança dessa obra. 

Devemos observar que os personagens são desprovidos de articulação verbal em decorrência das adversidades que enfrentam na vida. Dessa forma, nenhum deles parece articulado o bastante para assumir o posto de narrador. 

O autor empregou o uso do discurso indireto livre, uma forma híbrida que permite mesclar as falas dos personagens ao narrador em terceira pessoa. Dessa forma, a voz dos retirantes pode ser incorporada sem que eles precisassem conduzir a narrativa.

Descaso: a crítica social de Vidas Secas

A história é ambientada no sertão, uma região marcada pela falta de chuvas. A escassez de chuvas é somada ao descaso do governo com as famílias de retirantes sertanejos. A falta de condições naturais e de investimentos torna a paisagem um ambiente ainda mais inóspito.

Na região, a época de chuvas é chamada de “inverno”. É nessa fase em que a esperança dos sertanejos de ter uma vida melhor floresce. Há a esperança de uma vida menos miserável e árida. Esse sentimento perdura até que as chuvas se tornam escassas novamente e a seca volta implacável. 

No capítulo intitulado como “Inverno”, Fabiano demonstra ter esperança de que as coisas melhorem. Contudo, assim que as chuvas acabam, também se tem o fim da esperança. 

A impossibilidade de sobreviver no ambiente rural faz com que muitos sertanejos precisem buscar trabalho na cidade. Porém, essa transição quase nunca é bem-sucedida, pois existe uma inadequação decorrente da falta de conhecimento dos personagens.

Recortes espaciais

A obra apresenta dois recortes espaciais: o ambiente rural e o ambiente urbano. A partir deles podemos entender a ideia de adequação e inadequação. Fabiano é perfeitamente adequado ao ambiente rural. Sua inaptidão para se comunicar não representa um problema, uma vez que ele sabe fazer seu trabalho.

Inclusive, há uma passagem em que o filho de Fabiano o admira enquanto ele desempenha a sua função. Contudo, na cidade o personagem é inadequado ao contexto. Essa falta de adequação é facilmente observada nos capítulos “Cadeia” e “Festa”. 

O tempo 

Em “Vidas Secas” não há linearidade de tempo. Outra característica temporal é a de que o tempo psicológico é mais valorizado do que o tempo cronológico. Ao optar por não usar esses marcadores temporais, o narrador distancia os personagens da ordenação do tempo.

A marcação cronológica serve como um elemento estrutural que permite compreender que os personagens estão excluídos. A valorização do tempo psicológico da narrativa torna as angústias dos personagens mais palpáveis. 

Análise de Vidas Secas

O romance é composto por 13 capítulos cíclicos que podem ser lidos em diferentes ordens. Os capítulos independentes narram a retirada de uma família começando com uma mudança e terminando com a fuga. 

Fabiano, o pai, não sabia que era branco e tão pouco sabia ler ou escrever. A mãe, Sinhá Vitória, é mulata e sabe fazer contas com grãos. O filho mais velho desejava saber ler e entender o que significa a palavra inferno. O filho mais novo sonhava em ser vaqueiro como o pai.

A família ainda é formada pela cadela Baleia, uma cadela, a personagem mais humana no romance, e por um papagaio que late por ser o único som que ouve. Nessa obra, a miséria social é abordada através da humanização da cadela e desumanização da família. 

Vidas Secas é um livro de grande importância para a literatura brasileira. Para conferir mais conteúdos como este, navegue pelo blog do Hexag!

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