Revolta de Beckman: entenda os motivos do conflito

A Revolta de Beckman ocorreu entre os anos de 1684 e 1685, em São Luís, no Maranhão. O conflito foi deflagrado pelos homens-bons devido às suas insatisfações com a forma como a Coroa gerenciava o comércio local e tratava os indígenas. O conflito teve fim com a retomada da cidade e os envolvidos foram punidos. 

Contexto histórico da Revolta de Beckman

O estado do Maranhão foi criado, em 1621, através do intermédio dos espanhóis. O rei espanhol Filipe II, que ocupava simultaneamente os tronos da Espanha e de Portugal, ordenou a criação tanto do Maranhão quanto do Grão-Pará. O objetivo era acabar com as invasões estrangeiras sucessivas na região. 

Os holandeses conquistaram a região, na década de 1630, contudo, quando foram expulsos a economia local passou a enfrentar problemas de abastecimento. As atividades de subsistência, como agricultura e extrativismo, eram o que sustentavam a economia local. Os habitantes não tinham condições de comprar escravizados africanos. 

Os jesuítas “protegiam” os indígenas da escravização porque desejavam ter o controle do trato dos nativos para explorá-los em suas missões. Isso gerava intensos conflitos entre colonos e jesuítas.

Companhia de Comércio do Maranhão

Em março de 1662, os primeiros escravizados africanos chegaram ao Maranhão e ao Grão-Pará, uma forma de tentar resolver o conflito. A entrada dos escravos passou a ficar a cargo da Companhia de Comércio do Maranhão a partir da década de 1680. 

A promessa da companhia era a de entregar pelo menos 500 escravizados anualmente, algo que não foi cumprido. A companhia detinha ainda o monopólio do comércio no Maranhão. Tratava-se de uma determinação régia, ou seja, era uma ordem real. 

Basicamente, essa companhia era a única com autorização para comprar mercadorias produzidas pelos locais e para vendê-las. Também era responsabilidade exclusiva dessa companhia a compra e venda de itens de abastecimento de fora do Maranhão. Tal monopólio era chamado de estanco. 

Motivos da Revolta de Beckman

O principal motivo para a deflagração da Revolta de Beckman foi a insatisfação dos habitantes de São Luís com a gestão colonial. As bases desse descontentamento eram a questão da escravização dos indígenas e o monopólio local realizado pela Companhia de Comércio do Maranhão.

A questão dos indígenas 

Em 1680, o rei de Portugal, D. Pedro II (não confundir com o imperador do Brasil), criou uma lei que impedia a escravização dos indígenas no Maranhão. O controle e o trato dos indígenas passaram a ser exclusivamente dos jesuítas. Os colonos se irritaram, por não receber os escravizados africanos prometidos. 

A questão do monopólio 

O estanco, por sua vez, prejudicava consideravelmente os interesses comerciais dos colonos. Para piorar a situação, havia denúncias de favorecimentos de terceiros pela Companhia. Outras denúncias diziam que a companhia pagava valores baixos pelas mercadorias trazidas locais e abastecia a cidade com produtos de baixa qualidade. 

Rivalidade entre São Luís e Belém

A Revolta de Beckman também teve como um dos fatores motivadores a rivalidade entre as cidades de São Luís e Belém. Os maranhenses se sentiam prejudicados pelo fato de que Francisco de Sá e Menezes, então governador da província, preferia residir em Belém. 

Miséria

Outro fator que pode ser mencionado como um auxiliar nesse processo foi a miséria na qual a população vivia. 

Revolta de Beckman: confira os principais acontecimentos

Estavam nesse grupo de conspiradores:

  • Homens-bons;
  • Cidadãos comuns;
  • Clérigos (que não eram jesuítas).

Os irmãos Beckman

Os principais nomes da articulação da revolta foram os irmãos Manuel e Tomás Beckman, cujo sobrenome nomeia o conflito. Manuel tinha um engenho e foi um dos principais líderes do conflito. Ele foi um dos responsáveis por convencer outros moradores de São Luís a se rebelar. Tomás era advogado e teve papel secundário. 

A eclosão da Revolta de Beckman

O conflito teve início em 24 de fevereiro de 1684, nesse dia era realizada uma procissão religiosa na cidade. Cidadãos engajados no movimento renderam os guardas que viajavam a Casa de Estanco. Em seguida, tomara o controle de pontos estratégicos da cidade. Balthasar Fernandes, o capitão-mor, foi preso durante a revolta. 

O novo governo de São Luís

Um governo, chamado de Junta Geral de Governo, foi organizado pelos rebeldes. O comando foi entregue para Tomás Beckman, Manuel Coutinho e João de Sousa de Castro. As principais medidas tomadas por esse novo governo de São Luís incluíam:

  • Deposição do capitão-mor;
  • Expulsão dos jesuítas;
  • Abolição da Casa de Estanco. 

O governo era formado por representantes de diferentes grupos presentes na cidade, como os homens-bons, cidadãos comuns e clérigos. Houve a tentativa de levar o movimento para outros lugares da província, mas os rebeldes não encontraram apoio. Os rebelados mantiveram o poder na capital maranhense por mais de um ano. 

O fim da Revolta de Beckman

O novo governo da capital maranhense não conseguiu se manter sem o apoio de outras cidades do estado. Em maio de 1685, uma esquadra foi enviada para São Luís e mesmo com dificuldades o comando da cidade foi recuperado. A bordo estava o nome do governador do Maranhão, Gomes Freire de Andrade. 

A normalidade, sob a perspectiva da Coroa, foi retomada com a chegada de novo governador. Ordens de prisão dos envolvidos foram emitidas e as punições estabelecidas. 

  • Manuel Beckman e Jorge de Sampaio de Carvalho foram condenados à forca;
  • Tomás Beckman e Eugênio Ribeiro Maranhão foram presos;
  • Belquior Gonçalves foi condenado ao açoite e degredo para Portugal;
  • Outros envolvidos foram multados. 

Consequências do fim da Revolta de Beckman

  • Os jesuítas retornaram e continuaram explorando a mão de obra indígena. 
  • Houve a extinção da Companhia de Comércio do Maranhão (a rejeição popular era muito significativa). 
  • A Coroa reviu a proibição de escravização de mão de obra indígena no Maranhão.
  • Em 1688, foi estabelecida uma lei que previa critérios para a escravização de indígenas. 

A escravização de indígenas foi proibida apenas em 1755, através de ordem do Marquês de Pombal.

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