Revolta Cabanagem: Lutas e transformações na Amazônia do século XIX

A Revolta Cabanagem ocorreu entre os anos de 1835 e 1840 na antiga província do Grão-Pará. No artigo a seguir apresentaremos com mais detalhes o contexto e os acontecimentos mais marcantes do período. 

Contexto histórico da Revolta Cabanagem

Em 07 de abril de 1831, D. Pedro I abdicou do trono do Brasil em favor de seu filho, Pedro II, que tinha cinco anos. De acordo com a Constituição de 1824, o imperador deveria ter ao menos 21 anos de idade completos para assumir o cargo. 

Teve início então o Período Regencial (1831-1840), um período de grande agitação política e inúmeras revoltas. A Revolta Cabanagem foi uma dessas revoltas regenciais, que se caracterizou por grande violência. 

O que motivou a Revolta Cabanagem?

A Revolução Industrial, no século XVIII, promoveu uma série de transformações de ordem política e econômica nos países da Europa. No Brasil, a realidade era outra e ainda no século XIX a economia era essencialmente extrativista. 

Importando mais produtos manufaturados do que exportava, o Brasil não mantinha uma balança comercial favorável. Havia profundo descontentamento entre as elites econômicas locais que disputavam entre si um projeto de nação. 

Nesse cenário, grupos populares formados por indígenas, escravos alforriados, pobres livres e quilombolas começaram a surgir. Em 1821, o Grão-Pará deixou de ser capitania e se tornou uma província. A administração central, estabelecida no Rio de Janeiro, tinha dificuldade de se comunicar e gerenciar as regiões mais distantes. 

Duas forças políticas

Duas importantes forças políticas surgiram nesse contexto e de uma delas emergiu uma das principais lideranças que levaram à Cabanagem. A primeira dessas forças tinha um perfil mais conservador e representava os movimentos reacionários. Defendia o absolutismo e o estreitamento da relação com a monarquia portuguesa.

Por sua vez, a segunda força estava relacionada com ideias modernizadoras liberais. Defendia o constitucionalismo de acordo com os moldes dos embates ocorridos em Portugal durante a Revolução Liberal do Porto, em 1820. Também defendia uma maior autonomia da província do Grão-Pará.

Os integrantes desse segundo grupo diziam-se Patriotas. Era um movimento mais autonomista e liberal cujos principais nomes eram:

  • Eduardo Angelim;
  • Batista Campos;
  • Félix Clemente Malcher. 

O embate entre as duas forças

Em setembro de 1822, quando ocorreu a independência do Brasil, as duas forças iniciaram um embate na província do Grão-Pará. Nesse período, as forças liberais ganharam mais expressividade e tinham Batista Campos como seu maior nome.

O reconhecimento oficial da independência do Brasil, na província do Grão-Pará, se deu somente em agosto de 1823. Para que isso acontecesse foi enviada uma missão militar liderada pelo mercenário inglês John Pascoe Grenfell. 

Governo Provisório

Após essa missão para debelar os revoltosos ter obtido sucesso, foi instalado um Governo Provisório na província do Grão-Pará. Batista Campos tornou-se uma liderança para um grupo heterogêneo composto por:

  • Integrantes da elite local;
  • Pessoas pobres (que viviam em cabanas próximas aos rios);
  • Indígenas;
  • Ex-escravos; entre outros.

Campos foi deixado à margem do novo governo e essa decisão do Governo Provisório gerou grande revolta local. As camadas mais populares (chamados de cabanos porque viviam em cabanas próximas aos rios) exigiam a participação de suas lideranças. 

O conflito 

Novamente Grenfell é enviado para Belém para conter a agitação. Batista Campos é então preso e muitos nativos são fuzilados. Em resposta, os cabanos se organizam para resistir às investidas de Grenfell que vai embora do Pará. 

A província e já se destaca como uma das principais lideranças. O governo central, então, nomeia Machado de Oliveira como presidente da província do Grão-Pará, que passa a ter sua autoridade questionada pelos cabanos.

A Regência Trina Permanente, autoridade central, nomeia então Bernardo Lobo de Sousa para substituir o governo de Machado de Oliveira. Inúmeros confrontos tem início, estima-se que foram mais de 30 mil mortos. O quadro de instabilidade política é então agravado. Outros nomes que se destacaram como lideranças foram: 

  • Clemente Malcher,
  • Eduardo Angelim;
  • Francisco Vinagre;
  • Manoel Vinagre; 
  • Antônio Vinagre. 

O movimento dos cabanos

O grupo dos cabanos era formado em sua maioria por:

  • Indígenas (tapuios e de outras nações);
  • Pobres livres;
  • Negros.

Os grupos menos favorecidos na sociedade se revoltavam com a situação de miséria em que viviam. 

Primeiro Governo Cabano

Entre os dias 06 e 07 de janeiro de 1835, os cabanos tomaram a capital e executaram Lobo de Sousa e outras autoridades. Foi formado então o Primeiro Governo Cabano (1835) tendo Félix Clemente Malcher como presidente da província. Pedro Vinagre foi nomeado comandante das armas. 

Malcher perde a confiança dos cabanos ao se alinhar com o governo imperial. Francisco Vinagre ganha mais simpatia junto aos cabanos. Na tentativa de um golpe contra Vinagre, Malcher é deposto e executado. Vinagre assume como presidente da província do Grão-Pará e inicia o Segundo Governo Cabano (1835).

Segundo Governo Cabano

Francisco Vinagre também tentou se alinhar com o Governo Regencial e isso desagradou os cabanos. Porém, ele se manteve no cargo. A Regência, temendo os caminhos que poderiam ser tomados, envia o marechal Manuel Jorge Rodrigues. As frágeis embarcações dos cabanos são facilmente abatidas. 

Em novembro de 1835, Rodrigues se torna o novo presidente da província. A transição é negociada com Francisco Vinagre. No entanto, os cabanos não desistem e se organizam para retomar Belém. 

Terceiro Governo Cabano

Antônio Vinagre e Eduardo Angelim marcharam até a capital e espantaram as forças regenciais instaladas ali. Foi proclamado um regime republicano e Angelim foi escolhido para ser o presidente do Terceiro Governo Cabano, em novembro de 1835. 

O brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa chegou em Belém em maio de 1836 para iniciar a investida definitiva do Império. Os cabanos que já estavam enfraquecidos são derrotados no dia 13 de maio de 1835. Contudo, os focos de resistência dos cabanos somente são dissolvidos em 1840. 

Agora você conhece mais sobre a Revolta Cabanagem. Para conferir mais conteúdos como este e dicas para o Enem e o vestibular, acesse outros posts do blog Hexag!

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