Preconceito linguístico: os efeitos na sociedade brasileira

Entende-se por preconceito linguístico todo tipo de juízo negativo a respeito de variedades da língua que possuem menos prestígio social. Em linhas gerais, esse prejulgamento diz respeito às variantes mais informais e relacionadas às classes sociais menos favorecidas. Essas classes tendem a ter menor acesso à educação formal ou acesso a um modelo de qualidade deficitária. 

Causas do preconceito linguístico

A base do preconceito linguístico está no padrão instituído por uma elite econômica e intelectual. De acordo com esse padrão, entende-se como “erro”, e consequente motivo de reprovação, tudo o que se distancia dele. O preconceito linguístico também está intimamente ligado a outros vieses de preconceito enraizados na sociedade, como: 

Preconceito socioeconômico

O preconceito de viés socioeconômico é provavelmente a causa mais comum e que leva a consequências mais graves. Indivíduos menos favorecidos economicamente tendem a dominar apenas as variedades linguísticas mais informais e menos prestigiosas pela dificuldade de acesso à educação formal. 

O desconhecimento do padrão linguístico relega esses indivíduos a estarem excluídos dos melhores postos do mercado profissional. Uma consequência direta desse preconceito é a formação da chamada ciclicidade da pobreza. Uma pessoa pobre que não teve acesso à escola dificilmente poderá oferecer uma situação muito diferente para seus filhos. 

Preconceito regional

É relativamente comum que aqueles que nasceram e moram nas regiões mais ricas do país demonstrem preconceito em relação a sotaques e/ou regionalismos típicos das regiões mais pobres. 

Preconceito cultural

A elite do nosso país nutre aversão à cultura de massa e variedades linguísticas por ela empregadas. Isso pode ser facilmente observado na música. O rap e o sertanejo foram por muito tempo estilos segregados culturalmente por estarem ligados às classes menos favorecidas. Ambos os estilos são ricos culturalmente e essenciais para a formação da identidade cultural dos brasileiros.  

Racismo

Elementos relacionados à cultura negra ainda são segregados por parte da população brasileira. O racismo se reflete também na linguagem, pois algumas palavras de origem africana têm seus significados deturpados.

Um bom exemplo disso é a palavra “macumba”, ela é relacionada a ideias de satanismo ou feitiçaria, mas na verdade é um instrumento de percussão utilizado em cerimônias religiosas. 

Homofobia

Expressões e gírias que são entendidas como pertencentes à comunidade LGBTQIA+ tendem a sofrer aversão por parte de quem tem preconceito com esse grupo social. Em 2018, criou-se grande polêmica em relação a uma questão da prova do Enem a respeito do pajubá, o dialeto desenvolvido pela comunidade. 

Efeitos do preconceito linguístico na sociedade brasileira

O principal efeito do preconceito linguístico é potencializar os demais preconceitos que citamos acima. Uma pessoa que é excluída de um processo seletivo de emprego por usar uma variedade linguística informal não terá condições financeiras para sair desse lugar do analfabetismo. E bem provavelmente continuará sendo excluída ao longo de sua vida. 

Um cidadão que é marginalizado por ter sotaque de uma determinada região permanecerá sendo estereotipado e sendo motivo de escárnio e, assim, sucessivamente.

Dessa forma, o preconceito linguístico cria um ciclo vicioso, em que o indivíduo é excluído de oportunidades de crescimento por ter determinada característica linguística e essa pessoa se manterá sem acesso a melhores condições de vida. 

O preconceito linguístico no Brasil

Em nosso país, há dois principais fatores geradores de preconceito linguístico: socioeconômico e regional. O preconceito relacionado ao fator regional tende a se manifestar mais amplamente em grandes centros populacionais que possuem monopólio da cultura, economia e mídia. As regiões Sul e Sudeste se destacam nesse papel de opressão.

Geralmente, as vítimas desse tipo de preconceito linguístico são oriundas de regiões entendidas como atrasadas por terem menos recursos financeiros, como o Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Infelizmente, é comum que os nordestinos sejam classificados como “analfabetos” e os indivíduos do centro-oeste sejam denominados como “caipiras”. 

O preconceito linguístico sob o viés socioeconômico é proveniente da elite econômica em relação às classes menos favorecidas. A língua é bastante usada como uma ferramenta de dominação.

Não conhecer a norma-padrão da língua se torna um “atestado” de incompetência, de acordo com essas elites. Isso mantém muitas pessoas em subempregos com remuneração ruim. O preconceito linguístico se constitui em um dos pilares de sustentação da divisão de classes em nosso país.

Como o preconceito linguístico pode ter fim?

Para que haja o fim do preconceito linguístico é essencial a participação da família, escola e mídia na divulgação da adequação linguística. É importante conceituar que a adequação linguística diz respeito a entender que não existe uma forma de falar que é mais “certa” ou mais “errada”.

Deve-se entender que há uma variedade linguística mais ou menos adequada para diferentes situações. Em uma ocasião solene é mais coerente usar a linguagem formal para manter os ritos necessários. Por sua vez, em uma situação informal é mais interessante usar a variante coloquial que te permitirá ser compreendido. 

O preconceito linguístico funciona como um impeditivo para que diferentes grupos sociais ascendam.

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