O que foi a Revolta da Vacina no Brasil?

Entender o que foi a Revolta da Vacina depende da compreensão do momento histórico, dos fatores que levaram ao descontentamento popular e da necessidade da erradicação de doenças como varíola, peste bubônica e febre amarela no início do século passado. Continue a leitura para ter um panorama completo a respeito.

O que foi a Revolta da Vacina?

No início do século passado, a cidade do Rio de Janeiro ainda era a capital federal, porém, claramente não conseguia mais atender às demandas desse título. A cidade não tinha sido planejada e, ao longo dos períodos de Brasil Colônia e Império, foi seguindo por caminhos tortuosos de desenvolvimento, que acarretaram sérios problemas de saúde e condições sanitariamente complicadas de moradia para a população.

Foi nesse cenário e contexto que a Revolta da Vacina foi desencadeada, ocorrendo entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904. O povo se revoltou e protestou contra a Lei da Vacinação Obrigatória Antivariólica, os serviços públicos de saneamento básico e os projetos de obras urbanas do prefeito da época, Pereira Passos.

Era um momento de grande revolta popular em decorrência de projetos urbanísticos que visavam remover os mais pobres de suas moradias para realizar uma “transformação” no visual da cidade. Ruas foram alargadas e cortiços destruídos, para tentar fazer com que a capital federal tivesse um visual mais elegante e cosmopolita.

Vacinação obrigatória

O sanitarista Oswaldo Cruz (1872-1917) foi o responsável pelo projeto de vacinação obrigatória para todo brasileiro com mais de seis meses de vida. Em 1903, um ano antes da revolta, ele assumiu a Diretoria Geral de Saúde Pública e deu início a uma campanha focada no saneamento básico da então capital federal.

Com o objetivo de erradicar doenças que estavam se tornando graves problemas de saúde pública – como varíola, febre amarela e peste bubônica – Cruz propôs a campanha de vacinação obrigatória, que foi aprovada no dia 31 de outubro de 1904.

Somado a isso, teve ainda a intervenção do presidente da época, Rodrigues Alves, que tomou medidas para conter as epidemias e fortalecer os projetos de modernização da cidade realizados pelo prefeito. A geografia da cidade carioca e a vida dos seus moradores foram modificadas para sempre.

Os caçadores de ratos

Quantidades absurdas de lixo acumulado podiam ser vistas por toda a cidade do Rio de Janeiro nos primeiros anos do século passado. Não é de se estranhar a proliferação do vírus da varíola, assim como de mosquitos e ratos que transmitiam doenças, como a febre amarela e a peste bubônica. Anualmente, havia um número significativo de óbitos em decorrência dessas enfermidades.

Objetivando reduzir o acúmulo de lixo e a presença dos ratos na cidade, o governo deu início a uma campanha de incentivo para que a população “caçasse” os roedores e os entregasse as autoridades em troca de um pagamento. Obviamente que a situação saiu do controle e muitas pessoas passaram a criar ratos para ter uma fonte de renda extra.

As fraudes levaram a suspensão dos pagamentos e a adoção de medidas mais autoritárias da campanha de saneamento básico. Era comum que pessoas tivessem suas casas invadidas e reviradas sem uma única explicação. Seguindo nesse molde autoritário, o governo não informou corretamente a população sobre a importância da vacinação. Nem mesmo as recomendações de higiene para prevenção das doenças epidêmicas foram divulgadas.

A vacinação

Existia um sentimento de desconfiança quanto ao líquido desconhecido que o governo desejava injetar na população. A grande desinformação foi o principal combustível para acender essa revolta. O fato de a população ter descoberto a respeito da obrigatoriedade da vacina através de matéria do jornal “A Notícia”, do dia 9 de janeiro de 1904, também não ajudou. O texto explicava que o comprovante de vacinação seria obrigatório para poder se casar, viajar, conseguir emprego, entre outros direitos.

A forma como a campanha foi realizada também contribuiu para a Revolta da Vacina, funcionários de Saúde Pública invadiam as residências com a proteção da polícia e vacinavam as pessoas à força. Esse gesto autoritário se refletiu na população como uma grande revolta e muitos passaram a resistir à vacinação obrigatória com armas.

Houve enfrentamento entre o povo, a polícia e os agentes de saúde pública. Vandalismo em prédios privados, bondinhos derrubados e um tumulto gigantesco na atual Avenida Rio Branco, deixaram claro que o motim estava tornando-se fora de controle. Inicialmente, o motivo dos protestos era a vacinação obrigatória, mas não demorou para que o povo direcionasse seu descontentamento para outras causas, como os serviços públicos e os governantes.

Tentativa de Golpe de Estado

O grande motim na capital federal abriu uma brecha para que Florianistas e Positivistas, contando com o apoio de alguns setores civis, tentassem colocar em prática um Golpe de Estado na madrugada do dia 15 de novembro de 1904. Essa tentativa de golpe não obteve êxito. Vale mencionar que o Florianismo foi o primeiro fenômeno político com destaque que girava em torno de uma personalidade republicana, nesse caso, Marechal Floriano Peixoto.

Por sua vez, o Positivismo foi uma escola filosófica apoiada nas ideias de Auguste Comte e John Stuart Mill, que nasceu na Europa no meio do século XIX e se consolidou no início do século XX. Basicamente, o Positivismo condenava as ciências experimentais, dando ênfase ao conhecimento humano.

Como terminou a Revolta da Vacina?

A vacinação obrigatória foi cancelada no dia 16 de novembro de 1904 e foi declarado Estado de Sítio. A Lei da Vacina Obrigatória passou por ajustes, tornando-se opcional. O governo desmantelou o movimento, considerado por ele como rebelde, e prendeu muitas pessoas, algumas suspeitas e outras não.

O saldo da Revolta da Vacina foi de 30 mortos, 461 deportados para o Acre, 110 feridos e outros 945 presos na Ilha das Cobras. A desinformação a respeito da importância da vacinação para o combate de epidemias teve um peso significativo para aumentar a inflamação popular.

A Revolta da Vacina é um tema importante para o vestibular e o Enem, portanto, fique ligado! Para conferir mais artigos informativos, navegue pelo Blog do Hexag!

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