Desde o início da pandemia de Covid-19, muito se tem falado a respeito da imunidade de rebanho, contudo, o conceito ainda se mostra nebuloso para parte da população. Continue lendo para entender o que isso significa e se existe a possibilidade de alcançá-lo no caso da Covid-19.
O conceito de “imunidade de rebanho” diz respeito a uma técnica de imunização em que uma parcela da população se torna imune a uma doença desenvolvendo anticorpos contra o agente que causa a enfermidade. Dessa forma, as pessoas que estão imunes funcionam como uma espécie de barreira de proteção para toda a população.
Assim, a população total está protegida da doença, ainda que não sejam todos que estejam imunes. Em outras palavras, esse conceito se baseia na redução da propagação do agente infeccioso em decorrência do desenvolvimento de imunidade por parte da população, normalmente entre 60 e 67%.
Podemos citar como exemplos de aplicação desse conceito na prática a imunidade de rebanho alcançada através da vacina de poliomielite e sarampo. Ao vacinar 95% da população se chegou à proteção de todos.
Basicamente, há duas formas de alcançar a imunidade de rebanho, a primeira delas é através da vacinação. A segunda forma seria naturalmente, ou seja, grande parte da população seria infectada, tornando-se, então, imune ao agente infeccioso. Contudo, essa segunda hipótese se mostra significativamente danosa à população, além de falha no que diz respeito à Covid-19.
Alguns governantes, em especial de países em desenvolvimento, defenderam a tese de que se poderia alcançar a imunidade de rebanho naturalmente. No entanto, isso levou ao colapso dos sistemas de saúde, em grande parte dos casos já bastante precários, e a um número exponencial de mortes em decorrência da Covid-19.
Outro ponto necessário de se considerar diz respeito à possibilidade de reinfecção que foi descoberta. Dessa forma, a imunidade adquirida através da doença não se mostra permanente.
Para entender de maneira mais clara como essa imunidade de rebanho natural não é uma possibilidade concreta, podemos nos ater ao exemplo de Manaus, capital do estado do Amazonas. A população aproximada da cidade é de 2 milhões, com elevada proporção de jovens. O primeiro caso de infecção por coronavírus foi detectado na cidade em 13 de março de 2020.
Desde então, a capital do Amazonas vem sofrendo com uma epidemia descontrolada que atingiu nível de mortalidade 4,5x mais alto do que o esperado. No dia 1° de outubro de 2020, a cidade contabilizou 2642 óbitos confirmados por Covid-19, além de outros 3789 óbitos decorrentes de desconforto respiratório agudo (SRDA). Houve distribuição uniforme da doença entre as diferentes faixas etárias da região.
Em junho de 2020 foi realizado um estudo sorológico com a população de Manaus, nesse período havia se passado cerca de um mês do pico da pandemia até aquele momento. Nesse estudo, aproximadamente 44% dos indivíduos da população da cidade apresentaram anticorpos do tipo IgC para a proteína do nucleocapsídeo (N) de SARS-CoV-2.
Foi identificada uma soroprevalência de 76% ou mais na população de Manaus. O estudo também identificou a redução de produção de anticorpos nos casos de infecção moderada em cerca de 100 dias após a infecção.
Em janeiro de 2021, a cidade de Manaus voltou a sofrer com o aumento exponencial dos números de casos e óbitos pela Covid-19. O sistema de saúde local novamente entrou em colapso, inclusive com a falta de suprimento de oxigênios nos hospitais.
É importante mencionar novamente a soroprevalência de 76% ou mais na população local no fim de 2020, assim como as medidas de distanciamento social e uso de máscaras que foram adotadas.
A conclusão que esse exemplo nos permite ter é que não ocorreu a imunidade de rebanho em Manaus. Mas, por que mesmo com o desenvolvimento de anticorpos por boa parte da população e adoção de medidas de distanciamento e uso de máscara não se obteve a imunidade de rebanho? Os especialistas apontam alguns fatores como:
Os especialistas avaliaram que não houve desenvolvimento de imunidade cruzada para Covid-19 e as novas variantes de SARS-CoV-2 que foram identificadas em Manaus em janeiro de 2021. Logo, o que ocorreu foi um número significativo de novas infecções decorrentes de estirpes diferentes.
Também se descobriu que a imunidade humoral e celular não é duradoura para o caso de Covid-19. Isso quer dizer que é possível que aconteçam casos de reinfecção.
Outro ponto identificado foi o de que a imunidade humoral e celular gerada pelos casos leves ou moderados de Covid-19 não tinha caráter de proteção, permitindo a reinfecção.
Infelizmente, o quadro observado em Manaus demonstra que pode ser bastante complexo alcançar um nível satisfatório de imunização. A pandemia pode se prolongar por um tempo considerável e indefinido. As vacinas, embora tenham grande relevância, podem não ser o suficiente para impedir o avanço da doença.
Pela dificuldade de identificar indivíduos assintomáticos e separá-los de indivíduos saudáveis, se mostra complexo conter o espalhamento do vírus. Deve-se levar em conta, ainda, que a doença pode acometer indivíduos de diferentes faixas etárias com a mesma gravidade que acomete os idosos. Muitos cientistas afirmam categoricamente que o conceito de imunidade de rebanho não se aplica à Covid-19.
A vacinação em massa é nossa única esperança no momento para frear e acabar com a pandemia!
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