Alguns exemplos de pleonasmo funcionam como um recurso linguístico para dar ênfase a uma ideia, enquanto outros se caracterizam como um desvio da norma padrão. Tudo depende se houve ou não a intenção de dar a ênfase por meio do emprego de uma figura de linguagem ou se a repetição se deu somente por um descuido. Continue lendo para entender melhor.
Conceitualmente, o pleonasmo se configura como um recurso linguístico em que é feita a repetição de um termo ou ideia para dar mais ênfase ou deixar o conteúdo mais claro. Como mencionamos, o pleonasmo pode ser tanto uma figura de linguagem (quando seu uso é feito propositalmente com uma intenção dentro do texto) ou um desvio da norma padrão.
A partir das explicações e exemplos de pleonasmo que daremos a seguir, você terá uma base sólida para utilizar esse recurso como figura de linguagem e evitar deslizes com repetições inadequadas.
Basicamente, o pleonasmo é dividido em dois tipos: literário e vicioso. A classificação depende da intenção de quem usou a repetição, se existe o objetivo de dar ênfase ao discurso ou se foi apenas um descuido.
Para alguns gramáticos, há casos em que o pleonasmo pode ser validado como uma figura de linguagem, desde que haja uma intenção real por trás do seu uso. Se não existe intenção, se torna um vício de linguagem simplesmente.
O pleonasmo literário é aquele utilizado para reforçar uma ideia ou um conceito do discurso, atribuindo ao mesmo caráter poético. Confira, a seguir alguns, exemplos utilizados por poetas.
Exemplo 1:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!” – Fernando Pessoa.
Nesse caso, temos o adjetivo “salgado”, que é redundante no acompanhamento de mar, mas que funciona de forma poética dentro da construção textual.
Exemplo 2:
“Chovia uma triste chuva de resignação” – Manuel Bandeira.
Nessa construção, chuva aparece de forma redundante. haja vista que já foi dito que chovia. Porém, o emprego de “triste chuva” contribui para a formação do contexto para quem está lendo.
Exemplo 3:
“Me sorri um sorriso pontual” – Chico Buarque.
Esse caso segue a mesma lógica do exemplo acima, ou seja, se há a informação de que sorri não é necessário mencionar a palavra “sorriso”, no entanto, na construção contribui para a contextualização a partir do acompanhamento de “pontual”.
Exemplo 4:
“Procuro só a escuridão
A purificação na calada da noite
Da noite preta” – Vange Leonel.
O pleonasmo estilístico desse trecho está no uso do adjetivo “preta” para reforçar a ideia de escuridão que já havia sido passada pela palavra “noite”. O conjunto dessas palavras ajuda a criar a atmosfera que a autora deseja passar para quem está lendo.
Também é importante falar a respeito do objeto pleonástico utilizado para dar realce ao objeto direto ou indireto. Pode ser empregado no começo da frase com posterior repetição de forma pronominal logo em seguida.
Exemplo:
“O meu amor, confessei-o a ele.”
Nesse exemplo, o objeto direto “o meu amor” está repetido após o verbo “confessei-o”. Como essa repetição objetiva dá ênfase à ideia da frase, configura-se em um objeto pleonástico.
Exemplo:
“A mim não me enganas tu” – Miguel Torga.
O escritor Miguel Torga repete o objeto indireto “a mim” através do pronome “me”.
Quando o pleonasmo é utilizado sem a intenção de ser figura de linguagem, configura-se em um vício linguístico, a redundância. As construções textuais redundantes geralmente são entendidas como inadequadas de acordo com a norma padrão e não servem para dar ênfase ou esclarecer algum ponto relevante. Podem ocorrer pela falta de atenção na construção do enunciado ou simplesmente pelo desconhecimento do significo das palavras utilizadas.
Exemplos:
“Eu desci lá embaixo para falar com ele.”
“Ela conquistou o papel de principal protagonista da peça.”
“Eu adiei para depois o encontro.”.
“Essa história virou um ciclo vicioso do qual ele não consegue sair.”
Observe que nas quatro frases acima não há motivo para o emprego da redundância, não serve para deixar a ideia mais clara ou para reforçar o enunciado. Para que fique mais claro, vamos reescrever as frases abaixo:
“Eu desci para falar com ele.” ou “Eu fui lá embaixo para falar com ele.”.
“Ela conquistou o papel principal da peça.” ou “Ela conquistou o papel de protagonista da peça.”.
“Eu adiei o encontro.”. ou “Eu marquei para depois o encontro.”.
“Essa história virou um ciclo do qual ele não consegue sair.” ou “Essa história virou um círculo vicioso do qual ele não consegue sair.”.
Percebeu como a redundância foi eliminada e as frases se tornaram mais claras? Seja oralmente ou na escrita, é essencial ter cuidado para não cair nas armadilhas do pleonasmo vicioso, o ideal é evitar o uso dessas repetições na fala cotidiana. Ouvintes e leitores, diante de pleonasmos viciosos, costumam ter uma sensação de inadequação.
A partir desses exemplos de pleonasmo ficou mais fácil entender como usar ou não usar as repetições, não é mesmo? Para conferir mais dicas de língua portuguesa navegue pleo Blog do Hexag!