Você sabia que erro de ortografia não é erro de português? Provavelmente você já se deparou com conteúdos online a respeito dos erros mais cometidos na língua portuguesa e encontrou exemplos de erros ortográficos entre eles. No entanto, essa classificação não está correta. Que tal entender melhor?
A seguir iremos explicar com mais detalhes os conceitos de erros de ortografia e erros de português.
Em linhas gerais, ortografia é o conjunto de normas referentes à grafia das palavras de uma língua. O conjunto de normas ortográficas pode sofrer alterações com o passar do tempo por força de lei. A ortografia oficial atual não é a mesma de 1810, a língua portuguesa passou por diversas mudanças ao longo da história.
Por exemplo, antes da reforma ortográfica de 1943, algumas palavras que usamos em nosso dia a dia eram grafadas de maneiras bem diferentes, como: athmosphera (atmosfera), portuguez (português) e mez (mês). Em 1945, outra reforma ortográfica alterou a grafia de palavras como côco (coco), êle (ele), sôbre (sobre) e gêlo (gelo).
Os países lusófonos estabeleceram um Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em 1990, porém, foi somente em 2016 que esse acordo foi implementado. Dentre as mudanças propostas estão o fim do uso do trema, alterações nas regras de acentuação e hífen, assim como o retorno de letras que estavam fora do nosso alfabeto.
Erros de ortografia não são erros de português e nem tão pouco erros de gramática. A confusão que coloca tais erros nessa categoria está no fato de que muitos não têm conhecimento do que realmente significa gramática. O termo “gramática” é técnico e conta com ao menos cinco acepções que explicaremos melhor abaixo.
Também chamada de “gramática internalizada”, diz respeito ao saber intuitivo pertencente aos falantes da língua. Isso significa que se refere às regras de uso da língua. Basicamente, todo indivíduo que tem a língua portuguesa como sua língua materna conhece a sua gramática.
Quando as crianças incorrem em erros, como chamar os amiguinhos da escola de “colegas” e “colegos” ou então dizer “um algodão” e “um algodinho”, demonstram que conhecem as regras da língua. A questão nesse caso é que essas regras são utilizadas de forma simplista e ingênua. Porém, a criança que fala assim conhece as regras de indicação de masculino e feminino e de aumentativo e diminutivo.
Quando os erros de ortografia são categorizados erroneamente como erros de gramática é esse sentido que está implícito. Esse conjunto de normas abrange os usos tidos como aceitáveis na linguagem socialmente prestigiada. Ressaltamos que essas definições não ocorrem devido a razões essencialmente linguísticas, mas sim por razões históricas e de convenção social.
A gramática também se refere à perspectiva científica de estudos de linguagem, a gramática estruturalista, funcionalista, tradicional e gerativa.
Quando o estudo de Gramática (também chamada de Língua Portuguesa no âmbito de estudo), Literatura e Redação ocorrem separadamente, é possível incorrer no erro de ter um aluno focado em decorar nomenclaturas gramaticais, mas sem os devidos conhecimentos auxiliares. Não é possível ler e escrever sem pensar a respeito da língua.
Outra forma de interpretar a palavra gramática é como um livro que aborda a língua de forma descritiva ou prescritiva.
Erro de português pode ser definido como estruturas que não são previstas pela gramática da língua. Para que fique mais claro, daremos o exemplo de uma regra bem conhecida e estabelecida da língua portuguesa: o artigo sempre é colocado antes do substantivo (a mesa, a menina, o livro).
Seria um erro de português se essa estrutura fosse invertida: “mesa a”, “menina a” e “livro o”. O conceito de erro apenas existe quando há o certo para lhe fazer contraponto.
Essa ideia de erro de português vem, de maneira geral, do processo de transformação linguística que ocorre ao longo do tempo. A língua não é estática, ou seja, ela está o tempo todo mudando de maneira, lembra quando dissemos que a ortografia de 1810 não é a mesma que usamos atualmente?
No tocante a erros de português, devemos nos atentar ainda para a esfera sociocultural. O Brasil é um país marcado pela grande desigualdade e, nesse contexto, a forma de falar daqueles que não frequentaram a escola é entendida como cheia de “erros”. Quando tais “erros” ocorrem entre pessoas que tiveram acesso ao estudo, há a desculpa de que todo mundo fala dessa forma.
Agora você já sabe que erro de ortografia não é erro de português!