O conceito de etnocentrismo refere-se a enxergar outra etnia, e derivações como religião, cultura, hábitos, idioma, entre outros, tomando a sua própria etnia como base. Ter uma visão etnocêntrica impede que o indivíduo reconheça culturas diferentes da sua e abre precedente para o entendimento de que os seus costumes são o ponto de partida para avaliar e qualificar todos os outros.
O observador etnocêntrico vê a si mesmo como superior em relação a aspectos culturais, religiosos e étnico-raciais. A compreensão desse conceito permite se desviar dele no decorrer da vida. Continue lendo para entender melhor o assunto.
A palavra etnocentrismo é formada pela junção dos radicais “etno” (derivado de etnia, cujo significado diz respeito a costumes, hábitos e cultura) e “centrismo” (posição em que algo é colocado no centro, tornando-se uma referência para tudo que está à sua volta). O etnocentrismo desconsidera outras culturas ou coloca a sua própria como superior às outras.
Nessa visão de mundo, o nosso próprio grupo é colocado como o centro de tudo e a partir dele são pensados e sentidos todos os demais. Sob o viés intelectual, representa a dificuldade de pensar a diferença, já no âmbito afetivo demonstra a existência de sentimentos como medo, estranheza e hostilidade.
O etnocentrismo pode estar relacionado com a xenofobia, o racismo ou com a intolerância religiosa, no entanto, tais elementos não são, necessariamente, a mesma coisa.
O etnocentrismo tem como foco de classificação a etnia. Por sua vez, o racismo se vale da noção de “raça”, uma construção social feita ao longo do tempo. É importante ressaltar que essa classificação caiu em desuso nos campos antropológico e sociológico, uma vez que foi criada sob a tese de que os seres humanos eram classificados em distintas raças hierarquizadas com o entendimento de que algumas seriam superiores a outras.
A antropologia do século XIX tentou fazer uma associação entre o nível de desenvolvimento cultural e a “raça” (partindo do entendimento de raça como aspecto biológico). Logo, se acreditava que culturas tidas como superiores seriam derivadas de raças superiores e as consideradas inferiores de raças inferiores.
Os europeus utilizaram essa visão etnocêntrica (que tinha o homem branco europeu como centro) como justificativa para explorar povos asiáticos, africanos, indianos e nativos das Américas e Oceania.
Xenofobia designa o sentimento de aversão ao que é estrangeiro. O etnocentrismo, por tomar por base a própria cultura para o estabelecimento de uma hierarquia social, tem a tendência de ver o estrangeiro como inferior. Hábitos, aspectos culturais e costumes estrangeiros são entendidos como menores em comparação com aqueles da base da visão etnocêntrica.
Segue a mesma lógica apresentada nos tópicos acima, porém, está direcionada para a religião. Trata-se de uma tendência de ver a crença do outro como sendo errada ou inferior. A partir dessa visão há a classificação, hierarquização e preconceito em relação a outras religiões.
O etnocentrismo religioso leva à intolerância religiosa e ao preconceito contra manifestações de cunho espiritual diferentes daqueles do observador etnocêntrico. Para entender melhor, considere o Ocidente que é predominantemente católico. A Europa foi responsável pela colonização das Américas, difundindo o cristianismo no Novo Mundo.
Quando os europeus chegaram às Américas, trataram de suprimir as religiões dos povos nativos. Foram realizadas campanhas expressivas de catequização dos nativos por meio de estruturas muito bem organizadas de grupos religiosos cristãos, como a Companhia de Jesus, por exemplo. Sob a visão etnocêntrica dos europeus, somente a sua religião (cristianismo) era correta, sendo superior a todas as manifestações religiosas dos nativos.
O etnocentrismo religioso ainda está fortemente em pauta atualmente, em especial no que se refere a religiões de matriz africana. Não é incomum que cristãos desrespeitem essas religiões por associá-las ao pecado e a algo demoníaco. O contrário também pode acontecer, no entanto, é menos comum devido à hegemonia da religião cristã no Ocidente.
Esse tipo de manifestação etnocêntrica acontece porque o praticante de uma determinada religião tende a considerar a sua crença como a única dogmaticamente correta.
A partir do século XIX, o imperialismo europeu (ou neocolonialismo) teve início. Países como Inglaterra, Alemanha e França investiram fortemente em políticas para expansão de seus territórios. Foi um período em que os territórios da África, Oceania e Ásia foram praticamente divididos entre essas nações.
Os europeus passaram a justificar suas ações de exploração através de um viés científico. Nascia, então, a antropologia, com o objetivo de criar teorias com base científica que justificassem a necessidade dessa exploração. O biólogo e geógrafo inglês Herbert Spencer desenvolveu as primeiras teorias da área que afirmavam a existência de hierarquia entre as raças.
Basicamente, se difundiu a ideia de que os brancos europeus eram superiores, sendo seguidos pelos asiáticos, índios e africanos. Nesse ponto de vista, os africanos seriam os menos desenvolvidos. Por ter se apropriado da teoria da evolução biológica de Charles Darwin, essa corrente foi chamada de darwinismo social.
O questionamento dessa corrente se deu no final do século XIX pelo antropólogo e geógrafo alemão Franz Boas, após o mesmo conhecer a cultura de povos nativos do território que atualmente é o estado norte-americano do Alaska.
O século XX foi marcado pela revisão da visão etnocêntrica através do trabalho de diversos estudiosos da área de antropologia. Um dos destaques é o antropólogo polonês Bronislaw Malinowski, que empreendeu trabalhos de campo com aborígenes australianos.
Também vale citar o antropólogo belga Claude Lévi-Strauss, radicado no Brasil, que realizou um trabalho de aproximação de tribos indígenas. Strauss ajudou a consolidar o entendimento da importância de respeitar a diversidade cultural, assim como iniciar estudos mais precisos na área de antropologia.
Respeitar a diversidade cultural é essencial para a destruição de qualquer tipo de entendimento de hierarquia cultural, promovendo, assim, uma ideia de relativismo. Em outras palavras, a observação dos aspectos de uma cultura deve ser feita respeitando a identidade cultural daquele recorte específico, sem partir de uma noção subjetiva. Somente a partir desse relativismo é possível realizar estudos sérios na área antropológica.
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