O processo de consolidação morfossintática é comum na língua falada e se reflete na língua escrita. Em linhas gerais, trata-se das variações linguísticas que acontecem ao longo do tempo.
No artigo a seguir iremos falar sobre essas mudanças e como elas influenciam no dia a dia dos falantes. Acompanhe!
Os processos de consolidação morfossintática dizem respeito às variações que surgem na língua falada e que acabam se refletindo na língua escrita. Precisamos ressaltar que essas alterações podem levar séculos para serem absorvidas pelas regras gramaticais do texto escrito.
Trata-se de um processo recorrente na fala dos brasileiros, mas que ainda não foi formalmente assimilado. Podemos exemplificar como “os menino”, “as fruta”, “brusinha”, entre outros.
Ao longo da primeira infância, dos zero aos seis anos, é quando um indivíduo adquire as habilidades de um falante nativo de um idioma. Basicamente, nessa fase a fisiologia cerebral da pessoa adquiriu de maneira inata às estruturas de uma língua e as suas variações possíveis.
Provavelmente você já ouviu alguém, nascido no Brasil, afirmar que não sabe falar português direito. Essa afirmação não está relacionada necessariamente à capacidade do indivíduo como falante, mas às suas habilidades de escrita. Produzir um texto de acordo com as regras gramaticais assusta algumas pessoas.
A grande questão está nas diferenças entre as propriedades da língua falada e da língua escrita. No entanto, na prática, ainda existe confusão entre as duas esferas, o que gera o preconceito linguístico.
O Brasil é um país sem extensão continental, que está dividido em cinco regiões. Nessas condições é relativamente simples compreender que existem formas diferentes para se referir a um mesmo objeto. Podemos exemplificar essas diferenças com um clássico, para você é biscoito ou bolacha?
Essa variante citada acima não costuma gerar grandes debates a respeito de quem está correto. As discussões ficam em uma esfera mais de humor. No entanto, o mesmo não pode ser dito de outras variações como “as menina” ou “brusinha”.
Nesses casos há um julgamento de superioridade intelectual mais marcado, inclusive com uma ponta de deboche. Contudo, analisando criticamente nenhum dos exemplos tem realmente um fundamento linguístico para julgamento, apenas social.
O português falado no Brasil, assim como o português de Portugal, tem sua origem no Latim. Observar a origem é importante para constatar a existência de variações e a sua relevância para compreender o processo de nascimento de diferentes línguas. Se não existissem as variações linguísticas, todo o Império Romano falaria o mesmo Latim.
A existência de diferentes idiomas que nasceram de uma mesma língua tem relação com duas razões:
Talvez, você esteja pensando nesse momento que se as variantes sociais não são as mesmas significa que as pessoas de classes sociais diferentes não falam a mesma língua. Porém, esse raciocínio não está correto.
Embora existam variantes sociais, todos falamos a mesma língua. No entanto, existem configurações variantes de acordo com:
Logo, cada indivíduo possui uma combinação específica de variantes que mudam com o passar do tempo. Outra questão que surge é se há uma variação linguística tão ampla, então como as pessoas se entendem?
Essa questão pode ser respondida através dos processos de consolidação morfossintática. Uma das principais funções da língua é a comunicação e para que ela ocorra de forma satisfatória é essencial que possa variar livremente.
Cada língua apresenta um sistema interno que guia as possibilidades de construção. O indivíduo que conhece e opera com maestria esse sistema é o falante nativo. Por isso, quando alguém que nasceu no Brasil disser que não sabe falar português direito, você poderá corrigi-lo.
Um nativo do português brasileiro sabe que “menino o bonita jogar bola a” não faz sentido algum na língua. Essas palavras até existem, mas não estão em uma ordem sintática correta. Isso nos faz compreender que a variação existe, porém, não é totalmente livre.
A partir desse entendimento podemos chegar a uma questão de maior interesse, podemos falar “brusinha”? Essa palavra passa por um tipo de variação frequente no Latim ao Português. Algo semelhante ocorreu com a palavra “ecclesia” que atualmente usamos como “igreja”.
Então, a troca do “l” pelo “r” é um processo válido na língua, ele acontece com outras palavras. Não se trata de privilégio social e nem mesmo de uma atualidade. A conclusão a que chegamos é que nesse caso o que incomoda não é a legitimidade linguística da variação, mas a questão social ligada a ela.
Muitos acreditam que a língua é a gramática, contudo, isso não é verdade. A língua é poder. A gramática nada mais é do que uma teoria de uso da língua criada para conservá-la historicamente e promover a sua padronização. No entanto, essa teoria de uso se baseia no uso de quem? Afinal, a língua falada varia.
A gramática é uma representação de uma convenção de opção de uso entre as diferentes estruturas possíveis e lógicas do sistema linguístico. Então, saber usar a gramática não te torna melhor do que ninguém. Isso apenas te dá mais acesso social nos âmbitos em que a língua escrita é relevante. Esse acesso, infelizmente, ainda é escasso.
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