A extinção das línguas indígenas no Brasil representa não somente a perda de idiomas, mas também de toda a cultura que esses povos têm a oferecer. Um idioma não se resume apenas a palavras para designar objetos e sentimentos, é também a fonte de comunicação que uma sociedade usa para expressar tudo aquilo que existe em seu meio. Continue lendo para entender mais sobre o tema.
Um idioma é muito mais amplo do que um aglomerado de palavras, consiste num meio de comunicação para que toda uma sociedade possa expressar aquilo que a cerca, da gastronomia à gastronomia.
Os idiomas trazem à tona tudo o que um povo tem a oferecer. Logo, quando uma língua desaparece, é como se estivéssemos explodindo um museu cheio de relíquias que contam a história da humanidade.
Para qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento sobre a relevância de artefatos históricos seria algo terrível imaginar a explosão de um museu. Infelizmente, o Brasil tem vivido esse equivalente nos últimos anos.
As línguas indígenas em nosso país vêm desaparecendo e esse não é um processo recente. No decorrer da nossa história, uma série de fatores vem contribuindo para esse momento.
A Coroa Portuguesa sabia que para dominar o território “recém-descoberto” precisaria dominar os povos que já habitavam o local. Uma forma de subjugação e domínio dos indígenas foi a extinção dos idiomas desses grupos com a substituição pela língua portuguesa.
O português foi elevado à condição de língua oficial do Brasil em meados do século XVIII. Houve a proibição da comunicação em qualquer outro idioma. Embora o decreto obrigasse que somente o português fosse utilizado entre os moradores da colônia, até os jesuítas falavam em tupi nas ruas.
Quando pensamos na era colonial, olhamos para um tempo que parece extremamente distante. No entanto, ao longo dos anos pouco se fez no sentido de proteger as línguas nativas. Foi somente em 1988, com a promulgação de uma nova Constituição, que se observou maior empenho na proteção e valorização das línguas nativas.
Contudo, os danos causados às comunidades indígenas entre a era colonial e esse início de engajamento pela proteção já eram irreparáveis. Para se ter uma ideia, acredita-se que havia entre 1.100 e 1.500 línguas faladas no Brasil. Dessas, somente 190 sobreviveram ao século XXI. Em 2016, 12 dessas línguas também haviam sido extintas.
Há casos em que o idioma é falado por menos de uma centena de indivíduos ou resiste somente na memória de um grupo de dois a cinco membros. Em geral, esses grupos são formados por anciões ou ouvintes que não têm didática ou simplesmente não desejam transmitir esse conhecimento.
A questão da preservação das terras indígenas está diretamente ligada ao processo de extinção de línguas nativas. Uma vez que esses povos não possuem um território próprio, têm grande dificuldade de manter a sua cultura viva.
De acordo com o artigo 231 da Constituição Brasileira é responsabilidade da União garantir os direitos dos índios sobre as terras que ocupavam tradicionalmente.
Os índios têm o reconhecimento de sua organização social, tradições, costumes, crenças e idiomas pela Constituição. Porém, há projetos de lei que objetivam reduzir consideravelmente esses territórios indígenas ou que permitem a exploração dos mesmos. Tais projetos são totalmente contrários à prioridade de preservação da cultura e das línguas indígenas.
Dentre os povos indígenas há populações monolíngues, multilíngues ou plurilíngues. Contudo, o mais comum é que a alfabetização nas escolas indígenas seja bilíngue.
Em teoria, os estudantes deveriam dominar a língua portuguesa e a língua materna da comunidade. No entanto, há em muitos casos a falta de professores capacitados para realizar o ensino bilíngue. Isso leva ao encerramento dessa forma de ensino já nos primeiros anos da educação fundamental.
Os estudantes indígenas que desejam melhores oportunidades no universo acadêmico acabam se voltando para o domínio da língua falada pela maior parte do país, o português. Há também a questão do afastamento dos indígenas da sua cultura nativa, o que contribui para o desaparecimento de várias línguas.
O número de falantes é determinante para entender se uma língua está ou não em processo de extinção. No Brasil, os povos indígenas representam minorias e todas se encontram ameaçadas sob algum aspecto.
Apesar de existirem projetos de documentação e ensino de línguas indígenas, a maior responsabilidade ainda é do Estado. Cabe ao Estado a garantia de proteção e valorização das comunidades indígenas, bem como a preservação das suas línguas maternas.
O Brasil é um país rico em linguagem, porém, precisa valorizar e criar instrumentos efetivos de preservação das línguas indígenas.