Em março de 2021, a Guerra na Síria completou uma década e estima-se que já causou a morte de mais de 600 mil pessoas. Além disso, esse conflito, que permanece em curso, leva a outras graves consequências para toda uma geração de pessoas, cujas vidas nunca mais serão como antes.
A destruição gerada pelo conflito fragilizou exponencialmente a infraestrutura síria, de maneira que será bem difícil o desenvolvimento do país nas próximas décadas. Continue lendo para entender melhor o contexto desse conflito e suas consequências.
O início da Guerra Civil Síria foi em março de 2011 e é entendido como uma consequência da Primavera Árabe, protestos populares ocorridos em países do norte da África e do Oriente Médio. Esses protestos exigiam que os governos fossem menos corruptos, que houvesse mais democracia e a população tivesse mais qualidade de vida.
Na Síria, os protestos tiveram início em março de 2011, na cidade de Deraa, região Sul do país. Os manifestantes protestavam contra o presidente Bashar al-Assad, que está no poder desde 2000, quando sucedeu seu pai, Hafez al-Assad. Os protestos eram contrários ao autoritarismo presente no país e pediam um futuro com mais democracia.
Houve violenta repressão dos protestos pelo governo de Bashar al-Assad. Um episódio determinante para a guerra civil foi a prisão, tortura e morte de estudantes com menos de 15 anos. Os jovens haviam feito pichações contrárias ao governo em escolas de Deraa e, então, foram levados pela polícia secreta síria.
Os protestos foram se inflamando, assim como a violência da repressão das tropas do governo. Os civis passaram a se armar como uma forma de se defender da violenta repressão. Não demorou para que os grupos armados se tornassem grupos rebeldes. O confronto entre os grupos armados e o governo culminou na Guerra Civil na Síria.
Conheça, a seguir, os principais desdobramentos dos 10 anos de Guerra na Síria.
Após uma década de conflito, muita coisa aconteceu e certamente os principais prejudicados foram os civis. A população síria viu suas casas serem destruídas, parentes morrerem ou desaparecerem e o fim das perspectivas de ter uma vida boa em sua própria nação novamente. Fugir do país se tornou essencial para sobreviver e até hoje milhões de sírios não voltaram ao seu país devido à guerra civil.
Inicialmente, o conflito tinha motivações políticas e o anseio popular pela democracia. No entanto, conforme cresceu, acabou ganhando contornos religiosos. O presidente Bashar al-Assad se tornou representante dos interesses da minoria xiita do país. Os grupos de oposição, por sua vez, acabaram se transformando em movimentos fundamentalistas sunitas.
O grupo fundamentalista Estado Islâmico teve grande participação no conflito entre os anos de 2015 e 2017, deixando muita destruição e medo, especialmente para certas minorias étnicas do país. Também fez parte desse conflito o grupo fundamentalista Hayat Tahrir al Sham, que possui ligação com a Al-Qaeda.
É importante ressaltar que nenhum desses dois grupos deixou de existir, no entanto, perdeu consideravelmente suas forças nos últimos anos. Grupos rebeldes moderados atuaram durante o conflito, basicamente, esses grupos se opõem a Bashar al-Assad, mas não se aliam com ideais fundamentalistas.
O conflito na Síria abriu a possibilidade de interferência de outras nações, como Estados Unidos, Turquia, Rússia, Arábia Saudita, Irã e Israel. Esses países passaram a interferir na forma como a guerra caminhava e no futuro da Síria.
O envolvimento da Rússia no conflito foi decisivo a favor de Al-Assad, que se encontrava seriamente pressionado em 2015 pelo Estado Islâmico e outros grupos rebeldes. Os russos realizaram bombardeios que foram fundamentais para o enfraquecimento dos adversários do presidente.
Outro país que contribuiu significativamente para a manutenção do governo de Al-Assad foi o Irã, que enviou armas, soldados (boa parte deles ligados ao Hezbollah) e dinheiro. A participação da minoria étnica curda residente no norte da Síria foi o bastante para que a Turquia resolvesse entrar no conflito. Os turcos alegaram que os curdos eram aliados do grupo terrorista curdo que atuava na Turquia e, por isso, tinham que retaliar.
Porém, acredita-se que o real motivo da Turquia atacar os curdos na Síria foi o fato de que os últimos se recusaram a fazer uma aliança ofensiva contra o governo de Bashar al-Assad. Acredita-se que a Turquia tenha o desejo de expandir seus territórios, amealhando territórios sírios.
Mais da metade do território sírio se encontra, atualmente, controlado por Bashar al-Assad. A parte restante está fragmentada entre grupos rebeldes moderados, turcos, curdos e grupos fundamentalistas. No entanto, é importante ressaltar que Al-Assad se encontra em uma posição bem mais estável do que estava há alguns anos.
A Síria é uma nação em guerra civil há mais de dez anos, isso é o suficiente para destruir qualquer país. Essa é a situação da Síria, que teve a sua infraestrutura destruída e dificilmente conseguirá se desenvolver nas próximas décadas. O país não tem mais uma rede nacional de hospitais e milhões de pessoas vivem em situação de risco.
Estima-se que a guerra civil já causou a morte de mais de 600 mil pessoas. Nesses dados, que são do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, foram incluídas pessoas oficialmente mortas e outras que estão desaparecidas. Além disso, há milhões de pessoas feridas em decorrência do conflito que adquiriram deficiências físicas permanentes.
Em torno de seis milhões de pessoas optaram por deixar suas vidas na Síria para trás e fugir, tornando-se, assim, refugiados em países vizinhos na Europa ou na América. A Turquia recebeu em torno de 3,5 milhões dos quase seis milhões de refugiados sírios. Certamente, a crise dos refugiados é uma das principais consequências dos dez anos de guerra na Síria.
Esse número expressivo de refugiados buscando por um novo lar resultou em um grande fluxo de pessoas tentando entrar na Europa. Como respostas, países como a Hungria decidiram endurecer sua política de imigração. Milhares de refugiados morreram tentando fazer a travessia para a Europa.
Milhões de sírios vivem em condições sub-humanas em campos de refugiados. Dentro da Síria há em torno de sete milhões de desabrigados. A população vive em situação de pobreza e desesperança.
Após uma década de conflitos, muitas pessoas se questionam se estaria chegando ao fim a guerra civil na Síria. No entanto, os analistas internacionais apontam que é um cenário de incertezas. Não se identificam esforços ou demonstrações de grupos opositores a Bashar al-Assad ou de nações estrangeiras, no sentido de dar fim à guerra. Inúmeras tentativas de cessar-fogo não deram certo.
O cenário que essas incertezas delineiam para a Síria é o do prosseguimento da guerra que continua ceifando vidas e sufocando qualquer possibilidade de reconstrução da nação. Acredita-se que a Síria, assim como Iraque e Somália, será um país instável por um longo período devido a guerras civis e ação de grupos fundamentalistas.
A década de guerra na Síria foi amplamente devastadora para o país e sua população. Navegue pelo blog do Hexag para conferir mais conteúdos informativos!